Em cobaias animais, a acupuntura parece impactar os mesmos caminhos biológicos responsáveis por dor e estresse análogos a drogas em humanos. Uma pesquisa realizada pela Georgetown University Medical Center (GUMC), publicada na revista científica Endocrinology, afirma que o estudo com animais fornece a evidência mais forte até agora sobre a validade desta terapia chinesa antiga em estresse crônico.
” Os benefícios da acupuntura são bem conhecidos por aqueles que utilizam este método, mas estas provas até agora são insuficientes. Esta pesquisa é uma culminação de diversos estudos, demonstrando que a acupuntura pode trabalhar no corpo humano para reduzir o estresse, a dor e até mesmo a depressão” informou a pesquisadora Ladan Eshkevari, Ph.D. e professora associada no departamento de enfermagem e farmacologia e psicologia da GUMC.
“Nós encontramos agora um mecanismo em potencial e este é o ponto de nossa pesquisa, nós precisamos realizar testes com cobaias e com um grupo de controle placebo em seres humanos- a mesma técnica que utilizamos para estudar os efeitos da acupuntura no comportamento de ratos” afirmou Eshkevari. Ela é ainda a diretora assistente do Programa de Anestesia e Enfermagem da Escola de Enfermagem e estudos da saúde de Georgetown.
Eshkevari e sua equipe descobriram que, aplicando a técnica com eletroacupuntura em um único mas poderoso ponto de acupuntura – o ponto do estômago 36 (St36) – irá atenuar a atividade no eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), o trecho que é associado com dores crônicas, com o sistema imunológico, humor e emoções. Reduzindo a atividade no HPA por acupuntura reduzimos a produção de homônimos do stress, secretados pelo eixo que está ligado com a resposta ao stress crônico.
“Alguns antidepressivos e remédios contra ansiedade, exercem seus efeitos terapêuticos nos mesmos mecanismos” diz Eshkevari. Ela já demonstrou que pré tratamentos com acupuntura previnem o aumento nos hormônios HPA causados por indução de stress doloroso em ratos e que os benefícios são longos.
A série de estudos realizados pela pesquisadora utilizou 4 grupos diferentes de ratos: três grupos de animais estressados- Um grupo que recebeu acupuntura por eletroacupuntura (um instrumento que garante uma igual distribuição da simulação elétrica), aqueles que receberam a falsa acupuntura (realizada em uma área em que não é um ponto de acupuntura), e um terceiro, o grupo placebo que não recebeu nenhum tipo de acupuntura. O grupo de animais estressados foi comparado com um quarto grupo de animais que servia de controle, sem nenhuma exposição ao estresse ou a acupuntura.
O primeiro estudo mimetizou o beneficio experimentado por indivíduos que utilizam da acupuntura regularmente, enquanto o novo estudo observou os benefícios da acupuntura durante um processo de estresse – “Geralmente, é nesses casos que a acupuntura é mais utilizada clinicamente” ressalta Eshkevari.
Os pesquisadores realmente comprovaram que a eletroacupuntura realizada no St36 minutos após uma exposição a dor crónica é efetiva para prevenir a elevação de hormônios estressores assim como o pré tratamento com a acupuntura.
O novo estudo também usou drogas para bloquear a manipulação do sistema HPA pela acupuntura e descobriu que a produção de hormônios estressores era igual em todos os grupos em tratamento. “Isto confirmou que a eletroacupuntura realmente afeta o sistema HPA”, relatou.
Analises comportamentais e de proteínas indicaram que a acupuntura parece prevenir o estresse induzindo a liberação de hormônios, assim como diminui depressão e comportamento ansioso nos ratos”. Este é o primeiro relatório ligando os efeitos da eletroacupuntura no ST 36 à estresse crônico, depressão induzida e comportamento ansioso em animais” diz Eshkevari
“Este trabalho fornece um modelo para futuros estudos clínicos do beneficio da acupuntura, seja antes ou durante o processo de estresse” afirma a pesquisadora.
Os co-autores deste estudo são Susan E, Mulroney, PhD, e Rupert Egan, ambos da GUMC e Lixing Lao, PhD da Universidade de Hong Kong. Este estudo foi apoiado em parte pela Associação Americana de Enfermeiras Anestesistas, AANA, na sigla em inglês.
Médico especialista em Acupuntura, formado pela Faculdade de Medicina da USP, com especialização e pós-graduação em Acupuntura na China. Fundador e Coordenador do CEIMEC. Doutorado em Ciências pela USP. Professor Colaborador do Instituto de Ortopedia do HC-FMUSP.