List T, Helkimo M, Andersson S, Carlsson GE. Acupuncture and occlusal splint therapy in the treatment of craniomandibular disorders. Part I. A comparative study. Swed Dent J. 1992; 16:125-141.
Resumo
Estudo comparativo do efeito do tratamento por Acupuntura e Placas Oclusais em pacientes com Distúrbios Craniomandibulares que tenham dores por mais de 6 meses. Participaram 110 pacientes neste estudo, 23 homens e 87 mulheres, divididos ao acaso em 3 grupos: Tratamento por Acupuntura, Placas Oclusais e Controle.
Todos os pacientes foram avaliados antes e imediatamente depois do tratamento, sendo que Acupuntura e Placas Oclusais reduziram os sintomas se comparados com o Grupo Controle.
Neste estudo de curto prazo, a Acupuntura deu melhores resultados subjetivos do que o tratamento com Placas Oclusais.
Introdução
Estudos mostram que Distúrbios Craniomandibulares (DCM) têm grande prevalência na população, porém apresentam origens multifatoriais e são comumente causados por uma combinação de fatores como oclusão, psicológico e muscular. A maioria dos estudos recentes enfatiza a utilização de tratamento conservador, os quais são efetivos na redução da severidade de sinais da DCM como: placas oclusais, ajustes oclusais, exercícios mandibulares, para pacientes com dor nos músculos mastigatórios.
Alguns artigos têm reportado ao uso de acupuntura no tratamento da dor crônica na cabeça e dor facial. Muitos estudos em DCM são de curto prazo, aproximadamente 3 meses de acompanhamento. Foi observado a necessidade de acompanhamento comparativo dos estudos de efeitos da Acupuntura de longo prazo em pacientes com DCM.
Os objetivos desse estudo, Parte I, são:
- Descrever anamnese subjetiva e características clínicas do pacientes com DCM que participam do estudo, e
- Comparar os efeitos imediatos da Acupuntura e do uso de Placa Oclusal no tratamento de sintomas da DCM com o do Grupo Controle.
Materiais e Métodos
Participaram do estudo 110 pacientes, sendo 23 homens e 87 mulheres, com idade média de 39 e 45 anos respectivamente, encaminhados para o Departamento de Fisiologia Estomatognática do Instituto de Pós Graduação da Educação Dental em Jönköping, Suécia. Todos foram examinados clinicamente e feito um histórico geral em relação à dor e DCM para se conseguir um grupo homogêneo.
Critérios de inclusão: sinais e sintomas de DCM de origem primeiramente muscular, dor por mais de 6 meses e índice de disfunção clínica de Di II ou mais de acordo com Helkimo (1974).
Critérios de exclusão: próteses totais, extrema má oclusão, gravidez, dificuldade de comunicação, complexos psico-sociais, doenças ou condições de tratamentos que podiam influenciar nos sintomas de DCM e pacientes não interessados em participar do estudo.
Havia inicialmente 950 pacientes, dos quais 256 (27%) foram considerados no quadro clínico, mas apenas 110 pacientes após exames clínicos foram incluídos no estudo, e divididos em 3 grupos: A-Acupuntura, B-Terapia com Placas Oclusais e C-Controle (em espera por 3 meses). O tratamento teve duração de 6 a 8 semanas para A e B. Foram realizados registros diários da dor 3 vezes ao dia (manhã, tarde e noite), exames radiográficos. Na última sessão do tratamento, os pacientes foram avaliados clinicamente e responderam a um questionário sobre os sintomas de suas dores.
Procedimentos
As investigações estiveram aos cuidados de dois examinadores independentes. Os pacientes aceitos foram divididos aleatoriamente em 3 grupos: Acupuntura (A), Placa Oclusal (B), Controle (C). Com intuito de se obter significativas informações da intensidade e freqüência de dor, o tratamento para os grupos A e B só iniciaram um mês depois.
O tratamento teve uma duração de 6 a 8 semanas para o grupo A e B, enquanto o grupo C ficou na lista de espera por 3 meses.
Os pacientes do grupo A que foram submetidos à Acupuntura, receberam pelo menos 6 aplicações com duração de 30 minutos, uma vez por semana, com agulhas de mistura de aço com dimensão de 30 x 0,30 mm, sendo usado um número aproximado de 4 a 15 agulhas, média aproximada de 12 agulhas por paciente em cada sessão.
Os pontos padronizados e utilizados foram: IG 4 e E 36 com estímulos elétricos unilateralmente de 2 a 3 Hz em ajustes individuais de aproximadamente 0,5 mA, estimulação manual nos pontos B 2, E 7, ID 18, Ex 12, Ex 29, DM 20, ID 19, E 6, VB 20, B 10, VB 21. Os pacientes do grupo B receberam Placas Oclusais na maxila, confeccionadas em acrílico, ajustadas para promover oclusão estável e guia canino.
Eram ajustadas semanalmente e de uso noturno durante o período de 7 a 8 semanas. Os pacientes do grupo C aguardaram 3 meses registrando suas dores em um diário de dor; após esse período os pacientes foram distribuídos nos diferentes grupos. Após a avaliação individual, alguns pacientes foram enviados para o departamento de radiologia para exames adicionais. Depois dos 3 meses de controle os pacientes receberam tratamento estomatognático, quando necessário, no departamento específico.
Resultados
Nenhum dos pacientes aceitos para o estudo desistiu durante a Parte I do estudo. As dores mais citadas foram na face e mandíbula (63%), têmporas (50%), dor temporomandibular (49%), testa (48%) e pescoço (45%).
Um aumento da dor foi reportado na presença do estresse (65%). Nenhuma diferença significativa foi observada entre os grupos antes do tratamento, porém imediatamente após o tratamento o grupo que recebeu Acupuntura apresentou uma significante redução do índice.
Discussão
Acupuntura e Placa Oclusal reduzem os sintomas comparados ao grupo controle que não apresentou nenhuma mudança. Neste estudo de curto prazo, de 6 a 8 semanas, a Acupuntura aparentemente teve melhor resultado que a terapia por Placas Oclusais. Talvez o resultado tenha ocorrido pelo fato de que a Acupuntura produz efeitos no Sistema Nervoso Central.
Nesse estudo 61% dos pacientes consumiam analgésicos, porém em muitos casos o consumo seria mais por hábito que por necessidade. Exames médicos demonstraram redução da pontuação da disfunção nos dois grupos de tratamento comparado ao controle.
Observou-se que o bruxismo está presente em muitos casos, principalmente nos que referiram dores de cabeça, que não é um fenômeno isolado nos casos de DCM, porém 60% dos pacientes tem sintomas de dor em pescoço e ombro, com maior freqüência em pescoço (nuca).
Este estudo mostrou que o resultado melhora quando o estímulo da agulha é feito no segmento dos músculos onde a dor está localizada.
Pretende-se esclarecer esse estudo na Parte II, onde os resultados seguintes serão apresentados e discutidos.
Resumido por Rubens Oquillas Martins
Médico especialista em Acupuntura, formado pela Faculdade de Medicina da USP, com especialização e pós-graduação em Acupuntura na China. Fundador e Coordenador do CEIMEC. Doutorado em Ciências pela USP. Professor Colaborador do Instituto de Ortopedia do HC-FMUSP.